Tiago Iorc oscila entre a busca e a fuga da canção no álbum 'Daramô'

Compositor exibe fôlego reduzido em disco produzido por Paul Ralphes com bom polimento pop.

Tiago Iorc oscila entre a busca e a fuga da canção no álbum 'Daramô'

Resenha de álbum

Título: Daramô

Artista: Tiago Iorc

Edição: Som Livre

Cotação: ★ ★ ½

♪ Tiago Iorc oscila no oitavo álbum, Daramô, sexto disco de estúdio do cantor, compositor e músico de origem paranaense. Contudo, para entender tal oscilação, é preciso conhecer os antecedentes do artista.

No ano passado, ao lançar os singles Masculinidade (2021) e Eu gosto tanto dela (2021) com produção musical e programações da dupla Lux & Troia, Iorc se distanciou do formato da canção pop folk que lhe dera projeção nacional em trajetória artística que alcançou pico de popularidade há sete anos com o estouro do álbum Troco likes (2015).

Neste disco, impulsionado pelos hits Amei te ver (Tiago Iorc, 2015) e Coisa linda (Tiago Iorc, 2015), Iorc trocou o inglês do repertório dos singles iniciais e dos três primeiros álbuns – editados desde 2007 e 2013 – e passou a cantar em português, com bom domínio do idioma pop romântico.

Foi quando o cantor virou a voz da vez. Tanta massificação parece ter dado curto-circuito na cabeça do artista. Iorc sumiu do mundo virtual em janeiro de 2018 e saiu de cena. A volta aconteceu em maio de 2019 com a edição, sem aviso prévio, do álbum mais denso do artista, Reconstruçãodisco valorizado pela introspecção das músicas Bilhetes (Tiago Iorc e Duca Leindecker), Desconstrução (Tiago Iorc) e Sei (Tiago Iorc).

Seguiu-se em sequência quase imediata, ainda em maio daquele ano de 2019, a gravação ao vivo de Acústico MTV que diluiu os progressos perceptíveis no álbum Reconstrução. E então Iorc saiu outra vez de cena, em julho de 2020, para retornar em novembro de 2021 com o já mencionado single Masculinidade.

Após idas e voltas, o álbum Daramô chegou ao mundo digital na noite de quinta-feira, 3 de novembro, três meses após a edição do single em que Iorc apresentou abordagem light de Ciumeira (Anair de Paula, Diego Ferrari, Everton Matos, Guilherme Ferraz, Paulo Pires, Ray Antonio e Sando Neto, 2018), sucesso do repertório da cantora sertaneja Marília Mendonça (1995 – 2021), e anunciou a volta para a gravadora Som Livre, que lançara o artista em 2007 via selo slap.

Tiago Iorc lança o oitavo álbum, 'Daramô', cujo repertório destaca as canções 'Saudade boa' e 'Tudo que a fé pode tocar' — Foto: Hugo Toni / Divulgação

Tiago Iorc lança o oitavo álbum, 'Daramô', cujo repertório destaca as canções 'Saudade boa' e 'Tudo que a fé pode tocar' — Foto: Hugo Toni / Divulgação

Ciumeira é uma das dez músicas de Daramô, álbum de bom polimento pop, dado pelo produtor musical Paul Ralphes. É a única música sem a assinatura de Iorc.

As demais flagram um compositor com fôlego reduzido, com letras rasas, como exemplifica a quase letárgica música-título Daramô (Tiago Iorc e Duda Rodrigues), mas com lampejos de inspiração quando busca a canção de amor mais convencional, como Você (Tiago Iorc), balada pautada pela nostalgia romântica.

Na seara amorosa, o grande trunfo da inédita safra autoral de Daramô é a melodiosa canção Tudo que a fé pode tocar (Tiago Iorc e Duda Rodrigues), potencial hit do álbum.

Quando o disco sai desse universo, o álbum Daramô pouco ou nada acrescenta à musicografia de Iorc. Faixa formatada com a produção adicional da dupla Lux & Tróia, Papinho (Tiago Iorc, Duda Rodrigues e Lôu Cascudo) é tema calcado em groove festivo com toque de samba e leve evocação do funk.

Com um minuto e meio, Laiá laiá (Tiago Iorc, Lux Ferreira e Mateus Asato) soa quase como vinheta em que Iorc apenas repete o verso-título, deixando a sensação de que faltou inspiração para completar o repertório. Introduzida por assovios, Dor de cabeça é faixa ainda menor (de um minuto e nove segundos) e menos afetuosa em que Iorc manda recado nos versos “Te quero bem / Bem longe daqui”.

Se Quero você pra mim (Tiago Iorc) enfatiza o toque percussivo do violão de nylon de Iorc, Que cansaço é não amar (Tiago Iorc e Duda Rodrigues) arremata Daramô com o sotaque ancestral das vozes das Ganhadeiras de Itapuã sem deslocar o álbum para a Bahia – estado onde Iorc passou temporada – e sem sedimentar a brasilidade alardeada no texto promocional do disco. Até porque o som de Tiago Iorc jamais deve ser caracterizado como “brasileiro” – e mal nenhum há nisso.

Faixa escolhida para promover o álbum DaramôSaudade boa (Tiago Iorc e Duda Rodrigues) é pop que flui com doçura, mostrando que, nesse contínuo processo de reconstrução, Tiago Iorc até acerta quando busca o suingue sem se afastar da canção.

 

 

Fonte: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2022/11/08/tiago-iorc-oscila-entre-a-busca-e-a-fuga-da-cancao-no-album-daramo.ghtml